quarta-feira, 21 de maio de 2008

Por que as siderúrgicas não param de subir?

As cinco maiores altas do Ibovespa no ano são do setor; entenda os motivos e veja perspectivas;
Nenhum outro setor teve um desempenho tão impressionante na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) no último ano e meio como o de siderurgia. Das 15 ações mais valorizadas desde janeiro de 2007, cinco são de siderúrgicas (veja abaixo). Sozinha, a CSN (CSNA3) acumulou ganhos de 313% no período, conquistou o título de ação mais rentável de 2007 e garantiu posição na lista de ações indicadas para compra de diversas corretoras. No ano de 2008, um novo show. Todas as cinco maiores altas do Ibovespa são ações de siderurgia. A estrela, entretanto, passou a ser a Usiminas (USIM5), que em apenas cinco meses e meio ofereceu a seus acionistas mais de 75% de retorno, contra 64% da CSN.[ Ler Matéria Completa...]
Mas, apesar de as perspectivas para o setor continuarem bastante positivas, as projeções para as ações já não são tão animadoras. O Santander, por exemplo, baixou nesta terça-feira (20/5) sua recomendação para os papéis da Usiminas de "compra" para "manutenção". "O mercado já embutiu no preço das ações as expectativas de crescimento do setor nos próximos meses. Portanto, há pouco espaço para mais altas. E isso só deve mudar se algum dado não esperado surgir", afirma Rodrigo Ferraz, analista da corretora Brascan.
A valorização dos últimos meses, segundo os especialistas, foi impulsionada pela crescente demanda por aço em todo o mundo, enquanto os estoques permanecem baixos. Com o excesso de procura, as empresas não encontraram dificuldades para repassar integralmente a seus preços o aumento nos custos, gerados principalmente pelo reajuste de 200% no carvão e mais de 70% do minério de ferro.
As vendas cada vez maiores de carros, fogões, geladeiras, imóveis, entre outros produtos, tornaram o mercado interno muito mais interessante para as siderúrgicas brasileiras que o externo. Enquanto a expansão do consumo de aço no exterior gira em torno de 6% ao ano, no Brasil ultrapassa os 10%. O resultado foi o redirecionamento das vendas e um aumento nas margens de lucro, que na Bolsa se transformaram em valorização nas ações.

As ações de siderúrgicas na Bovespa
Além das projeções de aumento de receitas, os preços das ações consideram mais um importante componente: a perspectiva de consolidação do setor. As cinco maiores siderúrgicas do mundo detêm apenas 20% do mercado global. Para se ter uma base de comparação, no setor de mineração, as três maiores companhias respondem por 70% da produção mundial. "Não há como saber se as empresas brasileiras serão compradas ou compradoras. Mas é muito provável que fusões e aquisições aconteçam", afirma a analista da corretora Ágora Cristiane Viana.
Para Carlos Kochenborger, analista do banco Geração Futuro, um possível movimento seria a busca, por parte das empresas brasileiras, de laminadoras no exterior. "Hoje, há restrições para a exportação de produtos com valor agregado. Por isso, as companhias poderiam aumentar suas margens de lucro enviando o material bruto para laminar lá fora", explica.

Vendas também podem fazer parte dos planos das siderúrgicas. Há tempos a CSN estuda o futuro de suas mineradoras, que são estratégicas por permitirem à companhia se proteger da variação dos preços das matérias-primas. Sendo assim, a empresa não deve se desfazer completamente dos ativos, mas a venda parcial possibilitaria a geração do caixa necessário para o desenvolvimento de diversos projetos, como a ampliação do Porto de Itaguaí e da Casa de Pedra, sua principal mina.

A CSN tem como meta elevar sua produção anual de minério de ferro dos atuais 17 milhões de toneladas ao ano para 100 milhões de toneladas em 2012. Desse montante, a empresa utilizaria apenas 20 milhões para consumo próprio, e venderia o restante para os mercados interno e externo. "Isso provocaria uma reversão nos negócios da companhia, que passaria a ser uma das cinco maiores mineradoras do mundo. A siderurgia se transformaria em complemento", diz Ferraz.

No mês passado, a CSN contratou o banco de investimentos Goldman Sachs para estudar a venda da Nacional Minérios (Namisa). Mas é a Casa de Pedra que chama a atenção do mercado. A expectativa de abertura de capital ou de venda de parte da mineradora para um investidor estratégico foi um dos fatores que provocaram a disparada de 156,7% nas ações da CSN no ano passado e fizeram com que a companhia, embora menor que Usiminas e Gerdau, apresentasse um valor de mercado superior ao de suas rivais.

Não tardou muito para que as duas siderúrgicas seguissem o exemplo da CSN e passassem a investir em jazidas próprias. Entre 2008 e 2010, a Gerdau planeja aplicar 120 milhões de dólares na ampliação de quatro jazidas que possui em Minas Gerais: Miguel Burnier, Várzea do Lopes, Gongo Soco e Dom Bosco. A Usiminas, por sua vez, após concorrer com grandes grupos internacionais como a australiana BHP, levou a mineradora J.Mendes por 925 milhões de dólares. "Depois dessa aquisição, as ações da Usiminas mudaram de patamar de preço", lembra Kochenborger. Mais caras, as siderúrgicas brasileiras precisarão surpreender o mercado para repetir o desempenho dos últimos meses no futuro próximo.

As maiores altas da Bovespa